quinta-feira, 14 de março de 2013

Novo Papa e a Liberdade Religiosa - Semelhanças e diferenças do Catolicismo na Argentina e no Brasil




Como arcebispo, Bergoglio aparece ao lado do então presidente Kirchner e de sua mulher, CristinaFoto: AFP / AFP
Igreja Católica é preponderante na Argentina, assim como ocorre no Brasil. Bispos e cardeais recebem tratamento de autoridades, sendo reverenciados e consultados por sua ponderada sabedoria, exatamente como acontece em solo verde-amarelo. 




O culto apostólico romano tem preferência sobre os demais credos, apesar da liberdade religiosa assegurada por lei, em ambos os países. Mas as semelhanças se esgotam por aqui.

Há uma diferença crucial entre o catolicismo do país do novo papa eleito nesta quarta-feira, Jorge Mario Bergoglio, e o brasileiro. A história recente mostra que os prelados argentinos, quando se trata de política e governos, são mais intrometidos. Se os brasileiros são discretos, parte deles vai às últimas consequências. Contra ou favor, não importa.

O próprio papa Francisco, quando era arcebispo de Buenos Aires, chegou a ser rotulado de “chefe da oposição” pelo ex-presidente Néstor Kirchner. As relações entre o chefe da Igreja Católica e o chefe de Estado eram tensas. Tornaram-se quase explosivas quando Bergoglio se insurgiu contra a Lei do Matrimônio Igualitário – não podia tolerar a união de gays.

A diferença entre os catolicismos ficou ainda mais escancarada durante as ditaduras militares que subjugaram os dois países. Religiosos brasileiros apoiaram ou se insurgiram contra o governo autoritário daqui (1964-1985). Mas não com a intensidade do que ocorreu na Argentina.

Uma Igreja dividida no auge da ditadura militarO clero argentino cindiu-se entre 1976 e 1983. Por contestarem a ditadura de Jorge Rafael Videla, nada menos do que dois bispos foram vítimas de acidentes de trânsito tramados por militares. Em agosto de 1976, morreu o bispo da província de La Rioja, monsenhor Enrique Angelelli, que tentava denunciar o assassinato de dois sacerdotes da sua diocese. Ele tinha por lema “não vim para ser servido, mas para servir”.

No ano seguinte, foi a vez do bispo da província de San Nicolás de los Arroyos, Carlos Ponce de Léon. O monsenhor viajava de automóvel a Buenos Aires, levando documentos que acusavam o comandante do I Corpo do Exército, general Carlos Suárez Mason, de sequestros, torturas e mortes. Não chegou ao destino.


Dezenas de religiosos foram executados por suspeita de apoiar grupos de esquerda. As freiras francesas Alice Domon e Léonie Duquet foram martirizadas nos porões de tortura. Cinco padres palotinos foram mortos a tiros, enquanto dormiam na comunidade de San Patricio, periferia de Buenos Aires.

No entanto, houve quem abençoasse a ditadura, Bíblia em punho, acreditando estar em uma cruzada santa que purificaria o país do comunismo. Capelães amparavam torturadores e pilotos que atiravam prisioneiros políticos no Oceano Atlântico, do alto de aviões. Consolavam que era uma “morte cristã” e que a Bíblia estabelecia a necessidade de separar o joio do trigo. A erva daninha do trigal, no caso, eram os guerrilheiros.
Religiosos católicos do Brasil também se dividiram durante o regime militar. Mas não há notícias de que tenham ido tão longe quanto certos sacerdotes argentinos. Acusado de colaborar com a repressão política, o padre Christian Von Wernich foi a julgamento, em 2007, respondendo por sete homicídios, 31 casos de tortura e 42 prisões ilegais.

Finalizada a ditadura, cerca de 30 mil cadáveres empilhados, a hierarquia da Igreja Católica argentina se manifestou. Condenou os que se envolveram em crimes, mas rejeitou qualquer responsabilidade como instituição. O bispo Justo Laguna, da linha progressista, esclareceu:

— É imprescindível reconhecer as culpas, não da Igreja, que é santa, mas de seus membros, que não são santos.

Fontes: Zero Hora - Google images

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