O que se segue é uma transcrição do discurso do ex-governador de Massachusetts, Mitt Romney chamado “Faith in America” (Fé na América), proferida na Biblioteca Presidencial George Bush em College Station, Texas. Romney falou sobre a sua visão a respeito da liberdade e da tolerância religiosa, e como a fé iria permear a sua presidência. O discurso começa com Romney falando com o ex-presidente George H. W. Bush, que o apresentou.
Romney: Obrigado, Senhor Presidente,
pela sua gentil apresentação. É uma honra estar aqui hoje. Este é
um lugar inspirador por causa sua e da primeira-dama, e por causa do filme
exibido na biblioteca presidencial.
Para quem ainda não viu, ele mostra o
presidente quando ainda era um jovem piloto, abatido durante a Segunda Guerra
Mundial, sendo resgatado de seu bote salva-vidas pela tripulação de um
submarino americano. É uma lembrança comovente de quando os Estados Unidos
enfrentaram desafios e perigos, e os americanos que estavam prontos e dispostos
a arriscar suas próprias vidas para defender a liberdade e preservar a nossa
nação. Estamos em dívida com você. Obrigado, Senhor Presidente.
Senhor Presidente, a sua geração
cumpriu sua obrigação, primeiro derrotou o fascismo e depois venceu a União
Soviética. Você nos deixaram, seus filhos, uma América livre e forte. É por
isso que chamamos a sua a grande geração. E agora é a vez da minha geração. O
modo que responderemos aos desafios de hoje irá definir nossa geração. E vai
determinar que tipo de América vamos deixar para nossos filhos, e seus filhos.
A América enfrenta uma nova geração
de desafios. O islamismo radical e violento procura nos destruir. Uma China
emergente se esforça para superar a nossa liderança econômica. E estamos
preocupados em nossa própria casa pelo excesso de gastos públicos, uso
excessivo de petróleo estrangeiro, bem como a dissolução da família.
Durante o ano passado, embarcamos em
um debate nacional sobre a melhor forma de preservar a liderança americana.
Hoje, quero abordar um tema que acredito seja fundamental para a grandeza da
América: a nossa liberdade religiosa. Eu também irei oferecer perspectivas
sobre como a minha própria fé iria influenciar a minha presidência, se eu fosse
eleito.
Alguns podem acreditar que a religião
não é uma questão a ser seriamente considerada no contexto das sérias ameaças
que enfrentamos. Se assim for, eles estão em desacordo com os fundadores da
nossa nação, pois, quando nossa nação enfrentou um grande perigo, buscou as
bênçãos do Criador. E mais, eles descobriram a conexão essencial entre a
sobrevivência de uma nação livre e à proteção da liberdade religiosa. Nas palavras
de John Adams: “Não existe um governo armado com potência capaz de competir com
as desenfreadas paixões humanas pela moralidade e religião … Nossa constituição
foi feita para um povo moral e religioso”.
A liberdade exige a religião, assim
como religião exige a liberdade. A liberdade abre as janelas da alma, para que
o homem descubra suas crenças mais profundas e comungue com Deus. A liberdade e
a religião se apoiam mutualmente, ou perecem sozinhos.
Dada a nossa grande tradição de
liberdade e de tolerância religiosa, alguns se perguntam se é importante
considerar a religião de um candidato. Acredito que sim. E vou respondê-las
hoje.
Quase 50 anos atrás outro candidato
de Massachusetts explicou que ele era um americano concorrendo à presidência, e
não um católico concorrendo à presidência. Assim como ele, eu sou um americano
correndo a presidência. Não defino minha candidatura pela minha religião. Uma
pessoa não deve ser eleita por causa de sua fé nem deve ser rejeitada por causa
de sua fé.
Deixe-me assegurar-vos que nenhuma
autoridade da minha Igreja, ou de qualquer outra igreja me influenciou nesse
assunto, e nunca vai exercer influência nas minhas decisões na presidência. Sua
autoridade se restringe aos assuntos eclesiásticos, e acaba onde os assuntos da
nação começam.
Como governador, eu tentei ser o
melhor, dentro da minha capacidade, servindo a lei e respondendo à
Constituição. Eu não confundi os ensinamentos particulares da minha igreja com
as obrigações do meu cargo e da Constituição – e, claro, eu não irei fazê-lo
como presidente. Eu não irei colocar nenhuma doutrina de qualquer igreja acima
dos deveres do cargo e da autoridade soberana da lei.
Quando jovem Lincoln descreveu o que
chamou de “religião politica” americana – o compromisso de defender o Estado de
Direito e a Constituição. Quando eu colocar a minha mão sobre a Bíblia e fizer
o juramento de posse, aquele juramento se tornará a minha mais alta promessa a
Deus. Se eu tiver a sorte de me tornar seu presidente, não servirei nenhuma
religião, nenhum grupo, nenhuma causa, e nenhum interesse de um grupo em
particular. Um presidente deve servir apenas a causa comum do povo dos Estados
Unidos.
Alguns acreditam que esse compromisso
não é suficiente. Eles preferem que eu simplesmente me distancie da minha
religião, dizem que é mais uma tradição do que a minha convicção pessoal, ou me
pedem para que eu negue um ou outro de seus preceitos. O que eu não vou fazer.
Acredito na minha fé mórmon e
me esforço em vivê-la. Minha fé é a fé de meus pais – e eu serei verdadeiro
para com eles e para com minhas crenças.
Alguns acreditam que tal confissão da
minha fé vai afundar minha candidatura. Se eles estiverem certos, que assim
seja. Mas eu acho que eles subestimam o povo americano. Os americanos não
respeitam os crentes de conveniência. Os americanos desprezam aqueles que
abandonam suas crenças, até mesmo para ganhar o mundo.
Há uma questão fundamental sobre o
qual eu fui muitas vezes questionado. O que eu acredito a respeito de Jesus Cristo?
Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus e o Salvador da humanidade. As crenças
da minha igreja a respeito de Cristo não podem ser as mesmas de outras fés.
Cada religião tem sua própria doutrina e história. Estas não devem ser bases
para a crítica, mas sim um teste para a nossa tolerância. A tolerância
religiosa seria um princípio sem valor se fosse reservado apenas para as
religiões com as quais concordamos.
Alguns desejam que um candidato
presidencial descreva e explique as doutrinas distintivas de sua igreja.
Fazê-lo seria permitir um tipo de teste religioso proibido pelos pais
fundadores na Constituição. Nenhum candidato deve se tornar o porta-voz de sua
fé. Porque, se ele se tornar presidente, ele receberá as orações do povo de
todas as fés.
Acredito que toda a fé procura fazer
com que seus seguidores se aproximem de Deus. E cada fé que conheci, possuem
características que eu gostaria que estivesse presente na minha: Eu gosto muito
da significativa cerimônia da missa católica, da acessibilidade a Deus das
orações dos evangélicos, da ternura de espírito dos pentecostais, da
independência e confiança dos luteranos, das antigas tradições dos judeus,
inalterada ao longo do tempo, e o compromisso de frequente oração dos
muçulmanos. A medida que viajo pelo país e vejo nossas vilas e cidades, sempre
sou comovido pelas muitas casas de culto com seus campanários, todas apontando
para o céu, nos lembrando da fonte das bênçãos da vida.
É importante reconhecer que, embora
as diferenças na teologia existam entre as igrejas nos Estados Unidos, nós
compartilhamos uma crença comum de convicções morais. Onde os assuntos de nosso
país estão centrados, normalmente são sobre os grandes princípios morais que
reúnem todos nós em um curso comum. Se era a causa da abolição, ou dos direitos
civis, ou do próprio direito à vida, nenhum movimento de consciência pode ter
sucesso nos Estados Unidos se não dialogarem com as convicções religiosas das pessoas.
Nós separamos a igreja do estado
neste país por boas razões. Nenhuma religião deve interferir nos assuntos do
Estado e nem o Estado deve interferir com a prática da livre religião. Mas nos
últimos anos, a noção de separação entre Igreja e Estado tem sido considerada
por alguns muito além do seu significado original. Eles procuram retirar do
domínio público qualquer reconhecimento de Deus. A religião é vista meramente
como um assunto privado sem lugar na vida pública. É como se eles tivessem a
intenção de estabelecer uma nova religião na América – a religião do
secularismo. Eles estão errados.
Os fundadores proibiram o
estabelecimento de uma religião estatal, mas não eliminaram a religião da praça
pública. Somos uma nação “Sob Deus, e em Deus, em que nós realmente confiamos”.
Devemos reconhecer o Criador como o
fizeram os Fundadores – em cerimônia e palavra. Ele deve permanecer na nossa
moeda, no nosso compromisso, no ensino de nossa história, e durante a temporada
de férias, presépios e menorahs devem ser bem-vindos em nossos lugares
públicos. Nossa grandeza não iria durar muito sem juízes que respeitam o
fundamento da fé sobre a qual repousa a nossa constituição. Vou ter o cuidado
de separar os assuntos do governo a partir de qualquer religião, mas não vou
nos separar do “Deus que nos deu a liberdade”.
Nem vou nos separar de nosso
patrimônio religioso. Talvez a questão mais importante que devemos fazer a uma
pessoa de fé que busca um cargo político, é esta: será que ele compartilha os
valores americanos: a igualdade da espécie humana, a obrigação de servir
um ao outro, e um firme compromisso com a liberdade?
Eles não são exclusivos de nenhuma
denominação. Eles pertencem à grande herança moral que temos em comum. Eles são
a terra firme em que os americanos de religiões diferentes se encontram e se
levantam como uma nação, unida.
Nós acreditamos que cada ser humano é
um filho de Deus – somos todos parte da família humana. A convicção do valor
inerente e inalienável de toda a vida ainda é a proposição mais revolucionária
e avançada da política. John Adams diz que fomos “colocados no mundo como
iguais”.
A consequência final de nossa
humanidade comum é a nossa responsabilidade uns para os outros, para nossos
compatriotas americanos acima de tudo, mas também para cada filho de Deus. É
uma obrigação que é cumprida pelos norte-americanos todos os dias, aqui e em
todo o mundo, sem levar em conta credo, raça ou nacionalidade.
Os americanos reconhecem que a
liberdade é um dom de Deus, não uma indulgência do governo. Nenhum povo na
história do mundo se sacrificou tanto pela liberdade. A vida de centenas de
milhares de filhos e filhas da América foram sacrificadas durante o século
passado, para preservar a liberdade, para nós e para os povos em todo o mundo.
Os Estados Unidos da América não se apropriou de nada nas terríveis guerras que
travou no século passado – nenhuma terra da Alemanha ou do Japão ou da Coréia;
nenhum tesouro, nenhum juramento de fidelidade. A resolução da América na
defesa da liberdade tem sido testada uma e outra vez. Nunca excitou, nem nunca
deve fazê-lo. Os Estados Unidos da América nunca devem vacilar em hastear bem
alto a bandeira da liberdade.
Esses valores americanos, esta grande
herança moral, é compartilhada e vivida em minha religião, como nas suas.
Ensinaram-me em minha casa como honrar a Deus e amar o próximo. Eu vi meu pai
marchar com Martin Luther King. Eu vi os meus pais oferecerem cuidado
compassivo para os outros, de forma pessoal para as pessoas próximas, e
liderando movimentos de voluntariado nacional. Eu sou movido pelas palavras do
Senhor: “Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de
beber; era estrangeiro, e hospedastes-me."
Minha fé está fundamentada sobre
essas verdades. Você pode testemunhá-las em Ann e no meu casamento e em nossa
família. Estamos muito longe de ser perfeitos e temos certeza que tropeçamos ao
longo do caminho, mas as nossas aspirações, nossos valores, são os mesmos que
os de outras religiões que estão edificadas nesta base comum. E essas convicções
certamente irão influenciar minha presidência.
As gerações dos norte-americanos de
hoje sempre conheceram a liberdade religiosa. Talvez nós nos esquecemos do
longo e árduo caminho que os fundadores dessa nação percorreram para
alcançá-la. Eles vieram aqui da Inglaterra em busca da liberdade religiosa. Mas
ao encontra-la para si mesmos, eles a princípio a negaram aos outros. Devido às
suas diversas crenças, Ann Hutchinson foi exilada da Baia de Massachusetts,
Roger Williams foi banido e Rhode Island, e dois séculos mais tarde, Brigham
Young partiu para o oeste. Os americanos não foram capazes de cumprir seu
compromisso com a sua própria fé e aprender a aceitar as convicções dos outros
com os diferentes credos. Nisto, eles eram muito parecidos com as nações
européias que haviam deixado.
Foi na Filadélfia que os pais
fundadores definiram uma visão revolucionária da liberdade, baseada em verdades
auto-evidentes sobre a igualdade de todos, e os direitos inalienáveis com os quais cada um é dotado por seu
Criador.
Nós prezamos esses sagrados direitos,
e os adicionamos na nossa ordem constitucional. Acima de tudo vamos proteger a
liberdade religiosa, não como uma questão política, mas como uma questão de
direito. Não haverá nenhuma igreja oficial, do mesmo modo que garantiremos o
livre exercício de nossa religião.
Eu não tenho certeza que apreciamos
plenamente as profundas implicações da nossa tradição de liberdade religiosa.
Tenho visitado muitas das magníficas catedrais na Europa. Eles são tão
inspiradoras, tão grandes, mas tão vazias. Levantadas ao longo de gerações,
muito tempo atrás, essas catedrais são agora um pano de fundo de um cartão
postal para sociedades muito ocupadas ou demasiadamente “iluminadas” para se
aventurarem em seu interior e ajoelharem-se em oração. O estabelecimento das religiões
de estado na Europa não ajudou nem um pouco às igrejas da Europa. E embora você
encontre muitas pessoas fervorosas lá, as próprias igrejas parecem estar
definhando.
Infinitamente pior é o outro extremo,
o credo da conversão pela conquista: a Jihad violenta, o assassinato como forma
de martírio, matando cristãos, judeus e muçulmanos do mesmo modo. Estes
radicais islâmicos fazem sua pregação não pela razão ou exemplo, mas pela
coerção das mentes e pelo derramamento de sangue. Não enfrentamos perigo maior
hoje do que a tirania teocrática, e o sofrimento sem limites que esses estados
e grupos podem infligir se dermos a eles uma chance.
A diversidade da nossa expressão
cultural, e do ritmo de nosso diálogo religioso, tem mantido a América na
vanguarda das nações civilizadas, mesmo quando outros consideram a liberdade
religiosa como algo a ser destruído.
Em um mundo assim, podemos ser
profundamente gratos que nós vivemos em uma terra onde a razão e a religião são
amigos e aliados na causa da liberdade, unidas contra os males e perigos do
dia. E você pode estar certo disso: Qualquer um que acredite na liberdade
religiosa, qualquer pessoa que tenha se ajoelhado em oração ao Todo-Poderoso,
tem um amigo e aliado em mim. E assim é para centenas de milhões de nossos
compatriotas: Não defendemos uma única estirpe religiosa – antes, nos
congratulamos com a sinfonia de fé da nossa nação.
Não nos esquecemos dos primeiros dias
do Primeiro Congresso Continental de Filadélfia, durante o outono de 1774. Com
a cidade de Boston ocupada pelas tropas britânicas, havia rumores de
hostilidades e temores de uma guerra iminente. Neste momento de perigo, alguém
sugeriu que eles orassem. Mas houve objeções. Eles estavam muito divididos em
suas crenças religiosas, episcopais e Quakers, anabatistas e congregacionais,
presbiterianos e católicos.
Então Sam Adams levantou-se, e disse
que queria ouvir uma oração de qualquer pessoa cheia de piedade e de bom
caráter, desde que fosse um patriota. E assim, juntos eles oraram, e juntos
eles combateram e, juntos, pela graça de Deus, eles fundaram esta grande nação.
Nesse mesmo espírito, vamos dar
graças ao divino autor da liberdade. E juntos, vamos orar para que esta terra
sempre possa ser abençoada com a luz sagrada da liberdade.
Deus abençoe esta grande terra, os
Estados Unidos da América.